esses dias eu estava assistindo se vira nos 30.
e uma coisa bem engraçada aconteceu.
um senhorzinho bem esquisito.
com óculos daqueles que aumentavam os olhos, deixando-o ainda mais simpático, se apresentou.
o que faço? eu faço as pessoas chorarem em trinta segundos.
o relógio disparou, e o velhinho ficou parado no mesmo lugar.
aos 28 ele deu um pequeno espasmo na perda direita, nada muito aparente.
aos 27 ele começou a andar bem devagarzinho, passo antepasso em direção à câmera.
o cenário num silêncio macio.
à medida que ele se aproximava, algo nele parecia que secava.
ia envelhecendo mais e mais, mas não de um jeito feio.
alguém já diria que seus cabelos eram perfeitamente brancos,
mas a cada passo eles clareavam impossivelmente mais.
parecia que ia cansar de andar a cada instante.
quando a figura do seu rosto dominou a câmera,
piscou duas vezes.
retirou seus óculos.
sobrancelhas grossas.
a marca do óculos no nariz.
os olhos...
remelentos.
gelatinosos.
verdes.
ou talvez castanhos.
as rugas talhadas em madeira encerada.
e as partes cartilaginosas espantosamente volumosas.
mas o que importa é que dava pra ver muita coisa na cara daquele velhinho.
coisas que a gente nunca achou que ia ver de nós mesmos.
ele simplesmente pegou aquele sentimento que eu tenho às vezes,
de que eu deveria virar um mochileiro filantropo
e de todas as coisas erradas que tem no mundo, que eu geralmente consigo ignorar,
e enfiou todos ao mesmo tempo na minha garganta.
insuportáveis de aguentar.
foi como ter arrancado um outro corpo meu de dentro de mim.
nesse instante, as paredes do auditório acima da platéia subiram,
e aonde antes haviam pessoas, inundou-se uma enorme e violenta cachoeira.
aquele dia não fui pro trabalho.
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Um comentário:
ai. me deu vontade de chorar.
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